Capitães de areia
Análise da obra: Capitães
da Areia, de Jorge Amado
O romance Capitães da Areia, de
Jorge Amado, é um documento sobre a vida dos meninos de rua de Salvador. A sua
primeira edição (1937) foi apreendida e queimada em praça pública pouco depois
de implantada a ditadura de Getúlio Vargas. No trecho a seguir, o narrador nos
conta como Pedro Bala, aos quinze anos, assumiu a liderança de um grupo que dormia
num velho armazém abandonado do cais do porto.
"É aqui também que mora o chefe dos Capitães da Areia:
Pedro Bala. Desde cedo foi chamado assim, desde seus cinco anos. Hoje tem
quinze anos. Há dez que vagabundeia nas ruas da Bahia. Nunca soube de sua mãe,
seu pai morrera de um balaço. Ele ficou sozinho e empregou anos em conhecer a
cidade. Hoje sabe de todas as suas ruas e de todos os seus becos. Não há venda,
quitanda, botequim que ele não conheça. Quando se incorporou aos Capitães da
Areia (o cais recém-construído atraiu para suas areias todas as crianças
abandonadas da cidade) o chefe era Raimundo, o Caboclo, mulato avermelhado e
forte".
Foi escrita na primeira fase da
carreira de Jorge Amado, e nota-se grandes preocupações sociais. As autoridades
e o clero são sempre retratados como opressores (Padre José Pedro é uma exceção,
mas nem tanto; antes de ser um bom padre foi um operário), cruéis e
responsáveis pelos males. Os Capitães da Areia são tachados como heróis no
estilo Robin Hood. No geral, as preocupações sociais dominam, mas os problemas
existenciais dos garotos os transformam em personagens únicos e corajosos,
corajosos Capitães da Areia de Salvador.
A grande admiração de Jorge Amado pelos vagabundos ensejou o romance Capitães da Areia. A narrativa se desenrola no Trapiche (hoje Solar do Unhão e o Museu de Arte Moderna); no Terreiro de Jesus (na época era lugar de destaque comercial de Salvador); onde os meninos circulavam na esperança de conseguirem dinheiro e comida devido ao trânsito de pessoas que trabalhavam lá e passavam por lá; no Corredor da Vitória área nobre de Salvador, local visado pelo grupo porque lá habitavam as pessoas da alta sociedade baiana, como o comendador mencionado no início da narrativa.
A grande admiração de Jorge Amado pelos vagabundos ensejou o romance Capitães da Areia. A narrativa se desenrola no Trapiche (hoje Solar do Unhão e o Museu de Arte Moderna); no Terreiro de Jesus (na época era lugar de destaque comercial de Salvador); onde os meninos circulavam na esperança de conseguirem dinheiro e comida devido ao trânsito de pessoas que trabalhavam lá e passavam por lá; no Corredor da Vitória área nobre de Salvador, local visado pelo grupo porque lá habitavam as pessoas da alta sociedade baiana, como o comendador mencionado no início da narrativa.
Tempo - A obra apresenta
tempo cronológico demarcado pelos dias, meses, anos e horas conforme
exemplificam os fragmentos: "É aqui também que mora o chefe dos
Capitães da Areia, Pedro Bala. Desde cedo foi chamado assim, desde seus 5 anos.
Hoje tem 15 anos. Há dez anos que vagabundeia nas ruas da Bahia."
O tempo psicológico correspondente às lembranças e recordações constantes na narrativa.
A fala de Zé Fuinha (...) "Quando terminaram, o preto bateu as mãos uma na outra, falou:
- Teu irmão disse que a mãe de você morreu de bexiga...
- Papai também...
- Lá também morreu um...
- Teu pai?
- Não. Foi Almiro um do grupo."
Foco
narrativo
A obra Capitães da Areia é narrada na terceira pessoa, sendo o autor, Jorge Amado, o narrador apenas o expectador. Ele se comporta, durante todo o desenvolvimento do tema, de maneira indiferente, criando e narrando os acontecimentos sem se envolver diretamente com eles.
O livro é dividido em três partes. Antes delas, no entanto, via uma seqüência de pseudo-reportagens, explica-se que os Capitães da Areia é um grupo de menores abandonados e marginalizados, que aterrorizam Salvador. Os únicos que se relacionam com eles são Padre José Pedro e uma mãe-de-santo. O Reformatório é um antro de crueldades, e a polícia os caça como os adultos antes do tempo que são.
Personagens
Pedro Bala: Era um jovem loiro de 15 anos, que tinha um corte no rosto. Era o chefe dos Capitães da Areia, ágil, esperto, respeitador e sabia respeitar a todos. Saiu do grupo para comandar e organizar os Índios Maloqueiros em Aracaju, desejando com líder do grupo Barandão. Depois disso ficou muito conhecido por organizar várias greves, como perigoso inimigo da ordem estabelecida.
Pedro Bala |
Professor: Era um garoto
magro, inteligente, calmo e o único que sabia ler no grupo. O professor era
quem planejava os roubos dos Capitães da Areia. Depois de muito tempo aceitou
um convite e foi pintar no Rio de Janeiro.
Professor |
Gato: Era o mais bonito e
mais elegante da turma. Candidato a malandro do bando, tinha um caso com Dalva
mulher das noites, que lhe dava dinheiro, por isso, muitas vezes, não dormia no
trapiche. Só aparecia ao amanhecer, quando saía com os outros, para as
aventuras do dia. Participava dos planos mais arriscados e era muito malandro e
esperto. Tempos depois foi embora para Ilhéus tentar a sorte.
Volta-Seca: Imitador de
pássaros e afilhado de Lampião, era mulato sertanejo de alpargatas.
Sem Pernas: Era um garoto pequeno para sua idade, coxo de uma perna, agressivo, individualista. Era quem penetrava nas casas de família fingindo ser um pobre órgão com o objetivo de descobrir os lugares da casa, onde ficavam os objetos de valor depois fugia e os Capitães da Areia assaltavam a casa. Seu destino foi suicidar-se se atirando do parapeito do elevador Lacerda, pelo ódio que nutria pela polícia baiana.
Sem Pernas: Era um garoto pequeno para sua idade, coxo de uma perna, agressivo, individualista. Era quem penetrava nas casas de família fingindo ser um pobre órgão com o objetivo de descobrir os lugares da casa, onde ficavam os objetos de valor depois fugia e os Capitães da Areia assaltavam a casa. Seu destino foi suicidar-se se atirando do parapeito do elevador Lacerda, pelo ódio que nutria pela polícia baiana.
João Grande: Negro, mais
alto e mais forte do bando. Cabelo crespo e baixo, músculos rígidos. Após a
morte de seu pai, João Grande não voltou mais ao morro onde morava, pois estava
atraído pela cidade da Bahia. Cidade essa que era negra, religiosa, quase tão
misteriosa como o verde mar. Com nove anos entrou no Capitães da Areia. Época
em que o Caboclo ainda era o chefe. Cedo, se fez um dos chefes do grupo e nunca
deixou de ser convidado para as reuniões que os maiorais faziam para organizar
os furtos. Ele não era chamado para as reuniões porque ele era inteligente e
sabia planejar os furtos, mas porque ele era temido, devido a sua força
muscular. Se fosse para pensar, até lhe doía a cabeça e os olhos ardiam. Os
olhos ardiam também quando viam alguém machucando menores. Então seus músculos
ficavam duros e ele estava disposto a qualquer briga. Ele era uma pessoa boa e
forte, por isso, quando chegavam pequeninos cheios de receio para o grupo, ele
era escolhido o protetor deles. O chefe dos Capitães da Areia era amigo de João
Grande não por sua força, mas porque Pedro o achava muito bom, até melhor que
eles. João Grande aprendeu capoeira com o Querido-de-Deus junto com Pedro Bala
e Gato. João Grande tinha um grande pé, fumava e bebia cachaça. Não sabia ler.
Era chamado de Grande pelo professor, admirava o professor. O professor achava
João Grande um negro macho de verdade.
Pirulito: Era magro e
muito alto, um cara seca, meio amarelado, olhos fundos, boca rasgada e pouco
risonha. Era o único do grupo que tinha vocação religiosa apesar de pertencer aos
Capitães da Areia. Quando parou de roubar, para sobreviver vendia jornais, seu
destino foi ajudar o padre José Pedro numa paróquia distante.
Boa Vida: Era mulato
troncudo e feio, o mais malandro do grupo. Muito preguiçoso, era o único que
não participava das atividades de roubo do grupo. Às vezes, roubava um relógio
ou uma joia qualquer, passando-a logo para o Bala, como forma de apoio ao
grupo. Era um boa-vida, gostava de violão e de ficar fazendo nada, contemplando
o mar e os barcos. Seu destino foi virar um verdadeiro malandro, que vivia a
correr pelos morros compondo sambas.
Dora: Tinha treze para
quatorze anos, era a única mulher do grupo e se adaptou bem a ele. Era uma
menina muito simples, dócil, bonita, simpática e meiga. Conquistou facilmente o
grupo com seus cabelos lisos. Seus pais haviam morrido de alastrine e ela ficou
sozinha no mundo com seu irmão pequeno. Tentou arrumar emprego, mais ninguém
queria empregar filha de bexiguento. Aí ela encontrou João Grande e professor
que a chamaram para morar no Trapiche, e logo ela já era considerada por todos
como uma mãe, irmã e para Bala uma noiva. Ela participava dos roubos com os
outros meninos. Morreu queimando de febre.
Dora e Pedro Bala |
João-de-Adão: Estivador, negro fortíssimo e antigo grevista, era igualmente temido e amado em toda a estiva. Através dele, Pedro Bala soube de seu pai. Ele tinha conhecido o loiro Raimundo, estivador que tinha morrido baleado na greve, lutando em prol dos estivadores. Segundo ele, a mãe de Pedro falecera quando ele tinha seis meses; era uma mulher e tanto.
Don'aninha: Mãe de santo,
sempre os socorria em caso de doença ou necessidade.
Padre José Pedro: Introduzido no grupo pelo Boa-Vida, conhecia o esconderijo dos capitães.
Querido-de-Deus: Pescador, juntamente com João- de- Adão tinham a confiança dos meninos, que, por sua vez, não mediam esforços para recompensar esse apoio.
Enredo
Tendo como cenário, as ruas e as areias das praias de Salvador, Capitães da Areia trata da vida de crianças sem família que viviam em um velho armazém abandonado no cais do porto. Os motivos que as uniram eram os mais variados: ficaram órfãs, foram abandonadas, ou fugiram dos abusos e maus tratos recebidos em casa.
Aproximadamente quarenta meninos
de todas as cores, entre nove e dezesseis anos, dormiam nas ruínas do velho
trapiche. Tinham como líder Pedro Bala, rapaz de quinze anos, loiro, com uma
cicatriz no rosto. Generoso e valente, há dez anos vagabundeava pelas ruas de
Salvador, conhecendo cada palmo da cidade.
Durante o dia, maltrapilhos,
sujos e esfomeados, mostravam-se para a sociedade, perambulando pelas ruas,
fumando pontas de cigarro, mendigando comida ou praticando pequenos furtos para
poder comer. Esse contato precoce com a dura realidade da vida adulta fazia com
que se tornassem agressivos e desbocados.
Além desses pequenos expedientes,
os Capitães da Areia praticavam roubos maiores, o que os tornou conhecidos,
temidos e procurados pela polícia, que estava em busca do esconderijo e do
chefe dos capitães. Esses meninos se pegos, seriam enviados para o Reformatório
de Menores, visto pela sociedade como um estabelecimento modelar para a criança
em processo de regeneração, com trabalho, comida ótima e direito a lazer. No
entanto, esta não era a opinião dos menores infratores. Sabendo que lá estariam
sujeitos a todos os tipos de castigo, preferiam as agruras das ruas e da areia a
essa falsa instituição.
Um dia, Salvador foi assolada
pela epidemia de varíola. Como os pobres não tinham acesso à vacina, muitos morriam
isolados no lazareto. Almiro, o primeiro capitão a ser infectado, ali morreu.
Já Boa-Vida teve outra sorte; saiu de lá, andando. Dora e o irmão, Zequinha,
perderam os pais durante a epidemia. Ao saber que eram filhos de bexiguentos, o
povo fechava-lhes a porta na cara. Não tendo onde ficar, os dois acabaram no
trapiche, levados por João Grande e o Professor.
A confusão, causada pela presença
de Dora no armazém, foi contornada por Pedro. Os meninos aceitaram-na no grupo
e, depois de algum tempo, vestida como um deles participava de todas as
atividades e roubos do bando. Pedro Bala considerava Dora mais que uma irmã;
era sua noiva. Ele que não sabia o que era amor, viu-se apaixonado; o que
sentia era diferente dos encontros amorosos com as negrinhas ou prostitutas no areal.
Quando roubavam um palacete de um
ricaço na ladeira de São Bento, foram presos. Parte do grupo conseguiu fugir da
delegacia, graças à intervenção de Bala que acabou sendo levado para o
Reformatório. Ali sofreu muito, mas conseguiu fugir. Em liberdade, preparou-se
para libertar Dora. Um mês no Reformatório feminino foi o suficiente para
acabar com a alegria e saúde da menina que, ardendo em febre, se encontrava na enfermaria.
Após renderem a irmã, Pedro,
Professor e Volta-Seca fugiram, levando Dora consigo. Infelizmente, não
resistindo, ela morreu na manhã seguinte. Don'aninha embrulhou-a em uma toalha
de renda branca e Querido-de-Deus levou-a em seu saveiro, jogando-a em alto mar.
Pedro Bala, inconsolável e muito triste, chorou com todos a ausência de Dora.
Alguns anos se passaram e o destino de cada um do grupo foi tomando rumo.
Graças ao apoio de um poeta, o Professor foi para o Rio, e já estava expondo
seus quadros. Pirulito, que já não roubava mais, entrara para uma ordem
religiosa. Sem-Pernas morreu, quando fugia da polícia. Volta-Seca estava
fazendo o que sempre tinha sonhado; aliou-se ao bando de seu padrinho, Lampião,
tornando-se um terrível matador de polícia. Gato, perfeito gigolô e vigarista,
estavam em Ilhéus, trapaceando coronéis. Boa-Vida, tocador de violão e armador
de bagunças, pouco aparecia no trapiche. João Grande embarcou como marinheiro,
num navio de carga do Lloyd.
Após o auxílio na greve dos
condutores de bonde, o bando Capitães da Areia de Pedro Bala, tornou-se uma
"brigada de choque", intervindo em comício, greves e em lutas de
classes. Assim como Pirulito, Bala havia encontrado sua vocação. Passando a
chefia do bando para Barandão, seguiu para Aracaju, onde iria organizar outra
brigada. Anos depois, Pedro Bala, conhecido organizador de greves e perigoso
inimigo da ordem estabelecida, é perseguido pela polícia de cinco estados.
Os Capitães da Areia são heroicos,
"Robin Hood"s que tiram dos ricos e guardam para si (os pobres). O
Comunismo é mostrado como algo bom. No geral, as preocupações sociais dominam,
mas os problemas existenciais dos garotos os transformam em personagens únicos
e corajosos.
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