Mayombe

“MAYOMBE” – Análise da obra de Pepetela 

 A obra,  cria um painel de Angola nos anos 1970, período da guerra de independência, mostra os desafios enfrentados pelos revolucionários para a libertação do país e critica as divisões internas e a falta de um ideal comum. Publicado originalmente em 1980, Mayombe foi escrito durante a participação do escritor angolano Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos (Pepetela) na guerra de libertação de Angola na década de 70. Recompõe o cotidiano dos guerrilheiros do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) em luta contra as tropas portuguesas. 

O romance, inovador, aborda as ações, os sentimentos e as reflexões do grupo, as contradições e os conflitos que permeavam as relações daqueles que buscavam construir uma nova Angola, livre da colonização.

Espaço da obra Mayombe
A ação se passa, principalmente, na floresta do Mayombe, onde está a base do grupo rebelde que luta pela independência de Angola, mas também na cidade de Dolisie, situada no Congo.

Veja mais sobre "Mayombe" em: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/mayombe.htm

 FOCO NARRATIVO 
A obra é organizada em seis capítulos nos quais há variação do foco narrativo – um narrador onisciente e onipresente se intercala com as personagens, guerrilheiros do MPLA, no papel de narrador da história. Com isso, Pepetala demonstra que nem mesmo a revolução se organiza como um conjunto, sendo enxergada de forma diferente e conflitante pelos seus próprios membros. Cada um desses observadores-participantes, com origem, ideologia, visão e propostas próprias, possuem também ideais distintos que os impedem de lutar pela mesma unidade libertadora. É uma narrativa em tempo cronológico que analisa profundamente a organização dos combatentes do MPLA

 TEMPO 
"entre 1961 e 1974. No entanto, o personagem Sem Medo menciona sua ida à Europa em 1962 e sua volta para a guerrilha em 1964. Por fim, no epílogo, temos o relato do último narrador — o Comissário Político —, assinado em Dolisie, no ano de 1971.

"O Mayombe começa com um comunicado de guerra. Eu escrevi o comunicado e… o comunicado pareceu-me muito frio, coisa para jornalista, e eu continuei o comunicado de guerra para mim, assim nasceu o livro", escreve o autor numa obra híbrida entre o romance e a reportagem. Mayombe, nome de uma região da África.

 ENREDO
"Alguns guerrilheiros estão em um acampamento na floresta do Mayombe. Então, o personagem Teoria assume a função de narrador e se descreve para o leitor e a leitora. Na sequência, o narrador principal fala sobre o estado do professor, que está ferido, mas insiste em continuar.

Teoria fala de Manuela, a quem renunciou, e também expõe sua condição social de homem miscigenado: “Criança ainda, queria ser branco, para que os brancos me não chamassem negro. Homem, queria ser negro, para que os negros me não odiassem. Onde estou eu, então?”.

Já o narrador principal nos informa sobre a diversidade étnica dos guerrilheiros: o Comandante é kikongo; e o Comissário, kimbundo. Além deles, existem também os cabindas, lundas, umbundos e lumpens. E, outra vez, Teoria assume o posto de narrador para explicar que seus conhecimentos fizeram que o nomeassem “professor da Base”.

O narrador principal narra uma discussão, entre os guerrilheiros, sobre a importância de politizar os trabalhadores. Os rebeldes também planejam uma ação militar para combater os tugas (portugueses). Assim, os guerrilheiros aprisionam alguns trabalhadores e buscam saber informações sobre o quartel. O plano é seguir o caminho do Congo, libertar os trabalhadores e voltar para surpreender os tugas.

Na sequência, o Comissário tenta politizar os trabalhadores; Milagre assume a narrativa e expõe sua visão sobre a rivalidade entre as tribos; o plano é colocado em prática, de forma que os tugas são pegos desprevenidos; e, por fim, Ingratidão, acusado de roubo, é julgado pelos guerrilheiros e condenado a seis meses de cadeia.

Em seguida, o narrador principal conta a história da base guerrilheira, construída no Mayombe. Relata que oito jovens guerrilheiros — entre eles, Vewê — chegaram à base três dias após a missão contra os tugas e permite que Mundo Novo comande a narrativa e exponha seus pensamentos críticos em relação ao Comandante.

A situação na Base é crítica, pois a comida chega ao fim, o que gera um clima de revolta entre os combatentes. Porém, o Chefe de Operações traz o reabastecimento, para a alegria geral. E traz também a notícia de que o camarada André e a camarada Ondina foram “apanhados no capim”, ou seja, tiveram uma relação sexual.

O Comissário então vai para Dolisie. Ele e Ondina conversam e se acertam. Mais tarde, o narrador dá a voz para André, que está “a caminho do desterro” em Brazzaville, por decisão da Direção. Na sequência, o narrador principal nos informa sobre a fuga de Ingratidão do Tuga.

Tempos depois, ocorre um envolvimento amoroso entre Ondina e Sem Medo, após ela e o Comissário terminarem o relacionamento. Então, a Base é invadida, e Vewê vai a Dolisie chamar Sem Medo, que leva reforços. No entanto, ao chegarem, Sem Medo e os outros descobrem que a Base, na verdade, não foi atacada pelos tugas."

"O que aconteceu foi que Teoria viu uma surucucu e, assustado, deu “uma rajada e a seguir uma outra”. Como Vewê ouviu gritar “apanhem vivos”, quando na verdade o Comissário gritava “apanhem os abrigos”, o jovem guerrilheiro concluiu que era um ataque dos tugas e correu para buscar ajuda em Dolisie.

No final do romance, Sem Medo retorna a Dolisie para se despedir de Ondina, pois será transferido, e volta para sua última operação no Mayombe. Então, Lutamos assume a narrativa e conta que eles vão, no dia seguinte, avançar para o Pau Caído, ocupado pelos tugas. Em seguida, o narrador principal toma a palavra e narra o combate."

Veja mais sobre "Mayombe" em: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/mayombe.htm

 Por fim, a floresta – personagem – gesta um novo homem para um novo momento histórico em Angola. Pepetela, por meio da apropriação do espaço do Mayombe, procura, simbolicamente, percorrer a história angolana por meio do território invadido e ocupado pelos colonos, seja no que diz respeito à terra ou à identidade do povo de Angolano.

Veja mais sobre "Mayombe" em: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/mayombe.htm

 ANÁLISE A obra é uma reflexão, envolta pelos ideais socialistas, sobre a dura realidade da sociedade angolana, sobre as perspectivas do movimento de libertação e da população local em relação aos princípios conflitantes do MPLA. Cada personagens luta a seu modo por seus ideais de libertação. Em meio a isso, vimos uma Angola despedaçada e sem unidade. 

O livro procura retratar esse desfacelamento e critica as lutas de grupos que não se unem por um ideal comum. A estrutura narrativa polifônica (várias vozes), que retrata os acontecimentos sob o ponto de vista de várias personagens em primeira pessoa, revela o profundo respeito a cada homem na sua individualidade e o desejo do autor de transformar os agentes da revolução em sujeitos da luta. 

Durante toda a narrativa, ocorre um mesmo registro linguístico, a despeito do abismo existente entre as classes sociais das personagens e as suas origens culturais, o que reforça a ideia de propor a igualdade entre as pessoas. Além disso, há a tentativa de criar um ideal nacionalista que une os povos distintos e a MPLA em oposição ao colonialismo. Conexões Ao retratar a luta de tribos em busca da libertação de seu país, Mayombe pode ser comparada ao romance indianista Iracema, de José de Alencar. Ambos apresentam conflitos entre tribos e a tentativa de se isolar do colonialismo português. 

https://guiadoestudante.abril.com.br/estudo/mayombe-analise-da-obra-de-pepetela/
https://brasilescola.uol.com.br/literatura/mayombe.htm, acessado 23/01/2024.

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